Resiliência: uma porta de saída do espiral de sofrimento
Autora: Psicóloga Valéria Rocha
É comum ouvir questionamentos do porquê algumas pessoas oriundas do mesmo núcleo familiar e social apresentam respostas diferentes frente às mesmas dificuldades e sofrimentos.
Para responder esta questão devemos entender alguns conceitos da física – a resiliência na física se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Após a tensão cessar poderá ou não haver uma deformação residual causada pela histerese do material - como um elástico ou uma vara de salto em altura, que verga-se até um certo limite sem se quebrar e depois retorna à forma original dissipando a energia acumulada e lançando o atleta para o alto.
Riecken (2006) afirma que resiliência é a capacidade de reverter uma situação adversa, de usar a força contrária de um dado evento a seu favor, de recuperar-se. A pessoa resiliente conta com uma força interna para restabelecer de pequenos ou grandes reveses. A psicologia adotou este conceito para compreender este fenômeno.
O psiquiatra, Victor E. frankl (1905-1997), é um grande colaborador do existencialismo e foi um exemplo de resiliência ao sobreviver o holocausto com dignidade, sabedoria e perdão, enquanto prisioneiro sofreu todo tipo de humilhações, porém libertado tornou-se um dos maiores cientistas contemporâneos e humanista, criou a logoterapia e seus livros já foram traduzidos em mais de 24 línguas e reimpresso 73 vezes.
Cada indivíduo é um fenômeno único e concebe a realidade tal qual ela se apresenta, mas para levá-lo a raiz de sua essência é preciso chegar aonde ele se encontra e começar por aí. Por isso, nós psicólogos existencialistas acreditamos que a resiliência pode ser uma característica estimulada desde a primeira infância, mas em caso negativo nunca é tarde para desenvolver esta habilidade e passarmos de vítimas à sobreviventes.
Para esta travessia devemos descontruir desilusões e frustrações, para atravessar com êxito as situações limites que exigem de nós, perseverança, coragem, otimismo, criatividade, autoestima, mobilização interna das defesas e competência emocional e afetiva, para lidar com as pressões cotidianas como o estresse, por exemplo. Acredite na superação, o bambu pode envergar, mas romper-se jamais!
DEZ HABILIDADES A SEREM ESTIMULADAS
1. FLEXIBILIDADE – abertura interior para o novo;
2. VONTADE DE FAZER MELHOR e participar da transformação da sociedade – disposição à descoberta e desenvolvimento de novas formas de ser, fazer e pensar;
3. TOLERÂNCIA A TENSÃO – criar sob tensão é uma capacidade a ser exercitada;
4. FIRMEZA/clareza de finalidades – é mais fácil enfrentar uma situação adversa quando se sabe aonde se quer chegar;
5. AFASTAMENTO da revolta e autocompaixão – sair do atoleiro que faz o indivíduo não crescer, não aprender, não enfrentar os desafios da vida;
6. REFLEXÃO crítica, positiva, ampla e preservativa;
7. SUBLIMAÇÃO por meio da arte, lazer, humor, atividade física – situações que reforcem a autoestima, identidade e com isso, seu protagonismo social;
8. CAPACIDADE de reiniciar – começar do zero e refazer-se de fatos frustrantes.
9. CAPACIDADE de agregar, dar e receber;
10. TOLERÂNCIA com os limites, erros e características próprias e dos outros – aceitar os erros para que não tentemos escondê-los, negâ-los ou suprimi-lo violentamente.
Fonte: Revista Viver Psicologia, nº 116, 2002.
Referências bibliográficas:
RIECKEN, Claudia, Sobreviver – instinto de vendedor, Saraiva, 2006.
ZOMIGNANI, Maurício, Invulneravél, não: resiliente, Revista Viver Psicologia, ano XI, nº 116, pg 31, 2002.
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