30 de março de 2010

A república dos frustrados

Por Marcos Lodi Você conhece alguém a quem possa referir-se como uma pessoa feliz? Cuidado. Ao final deste texto você poderá ter uma grande surpresa. Digo isso porque a ideia deste texto é justamente descrever o frustrado. Consultando o dicionário, encontramos o variado quadro de definições. Vejamos: frustrado adj. 1. Que não produziu efeito. 2. Que não deu resultado. 3. Malogrado. 4. Que não chegou a desenvolver-se. 5. Inútil, baldado. frustrar - Conjugar v. tr. 1. Privar (a outrem) do que espera com fundamento. 2. Iludir. 3. Baldar, inutilizar. v. pron. 4. Ficar sem resultado. 5. Malograr-se. 6. Inutilizar-se. (Fonte: Dicionário Priberam) Porém, apesar de tanta exatidão, a definição do frustrado é mais complexa do que parece. Isto porque existem dois tipos: os ocultos e os declarados. O frustrado declarado é aquele que sempre reclama de tudo. Difere-se do pessimista porque nem ao menos cria perspectivas, por pior que pareçam. Não sente inveja dos outros, mas entristece quando vê alguém vencer, independente de qual área for o êxito. O tom emotivo deste tipo de frustrado aumenta ainda mais quando ele vê a vitória alheia e percebe não possuir forças para almejar um objetivo. O frustrado oculto é o mais perigoso porque pode acarretar em seqüelas graves para a vida da própria pessoa e dos outros. É o tipo mais comum, embora mais difícil de detectar. Sempre aparenta vitalidade, acredita fielmente na sua felicidade e busca momentaneamente exprimi-la à sociedade como uma espécie de necessidade de mostrar que tudo está bem. A chave da percepção do frustrado está justamente ai. Demonstrar felicidade é seu cargo chefe, deixando de lado a busca pelo próprio sucesso. Vive a vida como a deixando levar, sem rumo certo, e refugia-se nestas pequenas doses de bons momentos. Alcançar a felicidade se resume em concretizar objetivos, tornar real o sonho. Esta sensação não tem preço, mas muitos não se intimidam em jogar fora suas vidas e atender aos padrões morais da sociedade, como se viver tivesse cartilha básica, algo para ser seguido e fim. Entro nos âmbitos da objetividade e padrões sociais pelo fato de não ser atributo do frustrado visar algo. Muitas vezes, ele se orgulha de coisas comuns, como ter tido vida difícil, começado a trabalhar cedo, constituído família e, ao mesmo tempo, não consegue visualizar nada de mais atrativo ao seu redor. É uma pessoa cheia de sonhos contrastantes à realidade que ele mesmo plantou. O maior problema do frustrado oculto é que, além de não conseguir realizar nada, ele ainda gosta de se impor sobre os outros com discurso autoritário e fala inflamada. Sempre se coloca como o menestrel da verdade, direcionador da vida alheia, mesmo sem se conhecer. Por isso, acredito na existência da república dos frustrados. Aponto o tom republicano pela presença da democracia. É verdade, acredite. O regime é democrático, pois o frustrado adquire este título pelos próprios méritos. Não existe grande segredo para sair da frustração. Como primeiro passo, acredito no auto descobrimento do homem, incluindo seus medos e limites. Quando a pessoa sabe conviver com suas limitações ela usa o que possui de melhor para reparar as possíveis gotas de desânimo. É uma questão de querer. Quando ficava quatro horas parado no ponto de ônibus, no auge da obesidade mórbida, não possuindo forças psicológicas para entrar pela porta da frente da condução, eu ainda era capaz de ir até a faculdade e conseguir transmitir alegria como se realmente eu fosse daquela forma. Quando entendi o que era ser frustrado, assimilei minhas barreiras, descobri meu objetivo naquele momento, transformei a alegria momentânea em positividade e hoje já se foram 130 kg. Se após este texto você detectou algum frustrado: não fique preocupado. É apenas a capacidade de percepção aflorada e colocada em prática. Se você auto avaliou portador de frustração, o único conselho da minha parte é que mude enquanto ainda há tempo. O maior desafio na atualidade é saber se somos quem realmente apresentamos à sociedade

3 comentários: