9 de abril de 2012

Um pouco mais sobre mim (Parte 4)

Por Marcos Lodi:

Em meio aos problemas com a obesidade o psicológico já estava comprometido. Fiquei por várias ocasiões superando um recorde nada agradável. Fiquei duas, três e até mesmo quatro horas no ponto de ônibus, parado, observando a condução passar por diversas vezes. Eu não tinha coragem de aceitar que não passava na roleta e encarar as pessoas.  Muitas delas riam do meu estado. Era uma figura pitoresca mediante a sociedade sem grandes camadas de gordura pelo corpo.
Já não havia pressa em acabar com a minha própria vida. A única coisa que eu tinha convicção era de que não “iria muito longe” naquele estado.  Não fui capaz de passar pela roleta encarando o mundo e fui discriminado em diversas entrevistas de emprego. Descontava tudo na comida, me entregando aos mais variados pratos e misturas calóricas. O jantar às 23h quando chegava da faculdade era congratulado com novo café com quatro pães. Consegui atingir os 220 kg e realmente eu era um “cadáver vivo”, segundo minha própria convicção.
Comia compulsivamente, chorava e comida novamente. Não temia grandes pratos e misturava doce, salgado, liquido e pastoso. Tudo era motivo para comer. Estando alegre ou triste, as guloseimas eram companheiras e os banquetes insaciáveis e extremamente prazerosos. Alimentar de forma avassaladora era como uma droga indispensável. Era usuário de comida em excesso e isto abrandava minha tristeza profunda.
A faculdade só tinha sentido para rir um pouco e desfrutar, mesmo que por algumas horas, da companhia dos amigos. Tentava ser um jovem normal, entretanto estava totalmente perturbado. Falava de Deus e dava conselhos com facilidade ao mesmo tempo em que alimentava ilusões enganando a mim mesmo.

Na faculdade sempre era o “paizão”. Ouvia muitos problemas e aconselhava como ninguém os meus amigos. Perdia várias partes da aula para dar conselhos aos outros. Dentro da sala de aula era a “cara” da alegria. Ria de tudo, fazia piadas, muitas delas de extrema inteligência. Todos, inclusive o corpo de professores, tinha a visão de que eu era um homem feliz comigo, cheio de alto astral e um exemplo a ser seguido.
Todavia “fora de campo” eu voltava ao mundo sofrível. Quantas vezes saía da sala de aula feliz por mais um dia e logo depois debruçava em lágrimas dentro do ônibus rumo a minha residência e dentro do quarto as lamentações continuavam.
Refletia antes de dormir sobre as coisas que eu ouvia na faculdade. Minha coordenadora chegou a referir-se a mim como uma pessoa que poderíamos ter como exemplo de gente. Veja só? Eu maquiava a minha vida com uma existência inverídica, cheia de sonhos e traduzida por dentro em pesadelos cotidianos que insistiam em não terminar.
E onde estava a minha fé? Eu não acreditava que poderia sair do quadro de obesidade e já estava com o “velho Marcão” alicerçado na mente.
Dentro do quarto em frente a TV era somente eu e a comida. Meus pais dormindo e meus pensamentos se resumiam em morte e ficar maquiando uma vida de ilusão para os outros. Era doente em diversos aspectos.
Porém, algo me chamava a atenção: Tudo o que pedi a Deus me foi proporcionado. Solicitei a Ele ser um grande puxador de samba e compositor de carnaval. Pedi a Deus para estudar comunicação. Em todas as ocasiões fui atendido. Mal sabia que Deus apenas permitiu que eu fosse tudo aquilo.
E agora? Faltava alguém, uma companheira. Chorando, dentro da sala de aula, algo que por sinal ocorreu uma única vez em todo o curso, eu disse aos meus colegas: “Preciso de alguém do meu lado”. Já caminhava para os 230 kg.
No próximo encontro: O desfecho do periodo pré-cirúrgia, meu processo de recuperação e tudo pronto para encarar esta "Questão de Peso".

2 comentários:

  1. Noooooooossa, já to super curiosa!!!
    To amando saber sua história!!!
    :)


    Danielle G.

    @danysussa

    ResponderExcluir
  2. Sensacional o Blog, Texto sabiamente escrito...! Acompanharei com certeza, e sempre torcendo por ti Marcos ! =)

    ResponderExcluir