11 de abril de 2012

Um pouco mais sobre mim (Parte 5)

Por Marcos Lodi:

Eu tinha amigos maravilhosos, meus trabalhos reconhecidos e por dentro me sentia inválido.

Era preciso ousar. Foi então que tomei a decisão de fazer a cirurgia de redução de estômago.Se eu seguisse o procedimento habitual para realizar a cirurgia que entrar na fila de espera, participar do grupo de apoio e aguardar. Eu não podia esperar. Estava engordando mais e mais. Na primeira reunião do tal grupo vi pessoas chorando e depressivas ao extremo. Me senti ainda pior e nunca mais voltei.
Fui orientado a entrar na justiça. Procurei vereadores, autoridades municipais. Tudo sozinho. Preferi sofrer calado para não deixar ainda pior meus amigos e familiares. Qualquer processo deste tipo poderia ter dado errado, mas enfim comecei a perceber um projeto grandioso de Deus na minha vida.
Na primeira tentativa o juiz negou meu pedido alegando que eu não estava inscrito na fila de espera do SUS. Isto era verdade. Não fiz inscrição porque sabia que demoraria anos para operar. Eu não tinha outra saída que fosse tentar novamente e anexar outra declaração do médico e fotos de meu estado lastimável. Eu já cheirava mal e os banhos não “suportavam” o odor por muito tempo.
Foi ai que a nova promessa de Deus se cumpriu. Um juiz de plantão julgou procedente meu pedido para fazer a cirurgia. Foram mais de 18 meses de luta desde que decidi operar. Foi a vitória de superação e pela primeira vez pude perceber que tinha forças para vencer obstáculos. E estes estavam apenas começando. Já estava com 254 kg e com toda a minha fé voltada para esta cirurgia.


Quando entrei no hospital imaginei que dentro de 10 dias, no máximo, estaria em casa e operado. Foram 56 dias de luta e ganhei mais quatro quilos. Fiquei internado numa ala do SUS com pessoas das mais diferentes idéias e com os mais variados.

Não conseguia dormir direito porque estava ansioso. Quando lamentava de madrugada sentava no sofá do andar e conversava com enfermeiros, pessoas internaas e seus acompanhantes. Conheci gente com males corriqueiros e doenças terminais. Vi e ouvi gente gritar de dor e morrer. Conheci gente maravilhosa que num suspiro da vida faleceu na manhã seguinte. Uma prova de dor psicologicamente incrível embora terrível.
Ouvia histórias variadas. Brigas de marido e mulher, diagnósticos de sofrimento. Eu estava me especializando em ouvir os outros e compartilhar da dor alheia. Não dormia praticamente e ficava sempre observando tudo e todos naquela ala de pacientes.
Quando recebia visitas sempre demonstrava a aparente fortaleza irredutível. Quando parentes e amigos iam embora, caia no choro em silêncio, trancado no banheiro do quarto, me recompondo para ouvir mais pessoas no decorrer da noite.
Certo dia ajudei uma senhora a não cair da cama. Ela me disse que jamais havia dormido com a cama afastada da parede. Eu a respondi amavelmente garantindo que as grades de proteção não permitiriam a queda. Seu nome era “Mariinha” como a mesma se referiu. Um abraço emocionado de agradecimento por não tê-la deixado cair e a filha observando tudo de longe com os olhos marejados.
Eu me dirigi a ela e disse: O que esta senhora tem? Para meu espanto veio a noticia: Ela deu entrada no hospital para fazer exames embora o câncer já esteja bem alastrado. É uma paciente terminal.


Juro que logo após aquele baque eu me dirigi calmamente ao meu quarto e chorei muito. Percebi que muitos precisavam de carinho e outros de um milagre. Eu estava precisando dos dois. Foi a primeira vez que passei a orar em alguns pacientes e conheci evangélicos dentro de um hospital.




No próximo encontro: A última prova de dor na madrugada que antecedeu a cirurgia; Meu retorno a faculdade e o surgimento do blog.



Um comentário:

  1. Depois que fiquei uma semana no CTI com a minha mãe esperando a recuperação dela que não aconteceu, ouvi muitas histórias também e passei a visitar os hospitais depois disso. Só quem vive, sabe a dor que é estar num local desses...é um pedaço do inferno pra uns e um pedaço do céu pra outros...
    Você passou muita coisa, não é a toa que tem um caráter maravilhoso, dê mt valor as suas dores, elas te construíram. Me orgulho de ter te conhecido!
    Estou firme aqui no blog!
    Conte comigo!

    Danielle
    Macaé

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